quarta-feira

País Imaginário em reposição

No âmbito do Mês do Teatro 2007, a Vigilâmbulo Caolho repõe o espectáculo País Imaginário


«Localização
Era uma vez um país imaginário.
O nome deste país deverá permanecer no anonimato pois os segredos favorecem a imaginação e, assim, em vez de conhecermos este país como se fôssemos turistas, talvez seja possível habitá-lo por instantes reconhecendo, aqui e ali, um ou outro traço do nosso próprio país, aquele em que nascemos ou sentimos que renascemos; a terra mãe, como diziam os primitivos na sua primitiva língua; ou a casa-de-partida como hoje dizemos, com propriedade, acerca do monopólio que é para nós o nosso país, esse sim bem real e bem mais distante de qualquer fantasia; o sítio, o mais pequeno espaço que se abriu para nós quando nascemos, único e irrepetível, como uma semente para o seu pedaço de terra, sendo que a diferença são as raízes que crescem à semente e as pernas que nos crescem a nós, porque a pernas dão para andar e as raízes não, e assim começam todos os problemas dos países, que são feitos de pessoas que tem pernas para andar e que muitas vezes se põem a andar do seu país para fora; embora cada país também vá ganhando raízes, como uma semente para o seu pedaço de terra, pernas e raízes, e é por isso que as pessoas se lembram do caminho de volta, e do nome, outro nome igual ao nome que não digo, esse sim bem real e bem mais distante de qualquer fantasia.

O país imaginário de que falo encontra-se a Norte de África e numa ponta da Europa, vendo-se na cauda ou na coroa dependendo de quem vê, depois de passar por umas ilhas, para quem vem de barco, ou por um estreito de água, para quem vem a pé das terras do sul. Um dos conjuntos de ilhas, espalhadas à sorte pelo mar, guarda o nome de uns pássaros que aí voam em círculos sobre a terra. Outra das ilhas guarda o nome dos seus troncos e, apesar de ser de terra, poderíamos julgar pelo nome que se tratasse de uma ilha flutuante, feita de madeira, como os barcos. O estreito de água é, na verdade, um estreito de terra coberto por água salgada, uma terra de ninguém, submersa e sobrevoada por barcos e peixes. Assim, a circunstância de se chegar a este país quase sempre por água dá a sensação de que é uma ilha, o que reforça ainda mais a sua natural inclinação para o mito de país imaginário.

Mas existe um pequeno trilho de terra para chegar a este país. No sul da França, o viajante vem seguindo a costa solar do Mediterrâneo em direcção ao oceano até chegar a umas montanhas cobertas de neve. Até aí, tudo bem, não há que enganar, o caminho é por entre as montanhas. O pior é depois, porque a terra alarga-se, o caminho divide-se em caminhos que se multiplicam noutros caminhos e todos eles, mais cedo ou mais tarde, vão dar ao mar, como se fossem rios que descessem das montanhas cobertas de neve. Esta terra de caminhos cruzados chama-se Espanha e na ponta mais ocidental de Espanha encontramos, então, o nosso país imaginário.

Um país por onde se chega voando em círculos sobre a terra, ou através de uma ilha flutuante, ou de um caminho submerso, ou no final de um labirinto de caminhos cruzados.

Um país rodeado do mar que acaba na terra e de caminhos que acabam no mar.»
09 de Março - Sfal, Lavradio
10 de Março - Leças, Alto Seixalinho
16 e 17 de Março - Sfua, Santo António
23 e 24 de Março - Catica , Coina
sempre às 21.30h / bilhetes a 5€, a adquirir nos locais