sexta-feira

fazer o amor

amor e gratis (sem acentos) foi:
- a ansiedade de fazer bem, a incerteza de fazer mal, o prazer de FAZER
- o amor não foi ensaiado, repetido, mas planeado, alinhado, por isso foi gratis (sem acentos)
- a técnica interior à cena
- os meninos de agora têm medo de errar; nós também, mas erramos à mesma
- um aluno do Ricardo disse "vou fazer o amor" e desenhou um coração
- nódoas negras. temos. fomos.




alinhamento

Fonte dos desejos
Na bilheteira é dado o bilhete do espectáculo (entrada gratuita) com uma moeda de 1 cêntimo. O espectador não paga para ver, recebe para ver. É-lhe dado crédito, valor. Dado, não é vendido. Ao chegar à sala existe uma fonte dos desejos. Por cada grupo que chega, vem um intérprete deitar 1 cêntimo na fonte e pedir um desejo secreto. Quem quiser que peça um também.

Apresentação
Cada um apresenta-se a cada espectador com o nome de todos os outros intérpretes. Ao mesmo tempo talvez se ouça:
Obrigado
(começar pelo fim)
Obrigado por terem vindo. Agora podem voltar.
(começar por acabar)

(so-fis-ma)
“a vida é um bem precioso”
“o amor dá sentido à vida”
logo logo
o amor é um bem preciso que dá sentido à vida
o amor é grátis
(risos)
era bom era!
“amor é dar e receber”
“amor com amor se paga”
é esse o valor do amor, antes e depois de não ter valor

se alguém vos perguntar obre o que é isto digam que
não é um espectáculo acabado
ou que é
porque não é um espectáculo começado
talvez seja sobre isto e aquilo, talvez, quem sabe,
digam que
não é sobre isto e aquilo, não, que é sob isto e aquilo, que é debaixo
e sobretudo, que não é sobre tudo, mas sob alguma coisa, debaixo disto e daquilo, desperdício, qualquer coisa grátis, antes e depois do fim
Obrigado
(acabar de começar)
Agora podem voltar.

Desejos

Primeiro um avião de papel sobre o muro. O rapaz abre o avião. Faz um desejo para a página em branco: Estou a precisar de dinheiro! (Cofidis). Dobra o papel enquanto o papel consiga dobrar-se, põe na caixa dos desejos (Sara). Depois, chega outro avião, e o mesmo. Outro e outro avião. Depois um papel amarrotado coma pressa. Outro e outro e outro. Muitos, enquanto se ouvem os desejos em catadupa:
(…)
quero ser
quero ver
quero o imaterial
quero o inconsciente
quero o imponderável
quero o desejável
quero uma
quero-te nua
quero esses sapatos
quero essa maneira de cruzar os braços
quero isso
quero querer
eu… eu QUERO
eu também
quero ser eu
eu também
eu QUERO!
(…)

1ª biografia: Sara Franqueira, pelo Júlio
Cada um trouxe cinco fotografias desde a infância até agora, e deram-nas a outro para que outro lhes fizesse a biografia.

Dança

Um casal dança Nat King Cole. Chega o segundo homem que quer dançar com a mulher. Terá que desligar a música para que o par deixe de dançar. Mas um terceiro homem guarda o rádio. Lutam. O segundo homem consegue desligar o rádio. O par afasta-se, o segundo homem dança com a mulher. O primeiro homem repete a tentativa com o terceiro homem. Lutam. O primeiro homem desliga a música, o par afasta-se, a música recomeça, o par dança. O segundo homem repete a tentativa. Lutam. Lutam. Interrompem a dança do par. Os três homens lutam.

Luta
Os três contra os três, em crescendo. Respirações, gemidos e roupas num amontoado de membros. Acaba com o Júlio a destruir o muro num salto.

Woyzeck
Cena XI: Capitão: Pedro Doutor: Ricardo Woyzeck: Júlo

Marylin Baker
Júlio de tronco nu e cabeleira loira surge por entre os caixotes cantando Happy Birthday to you a cada espectador. Pedro e Ricardo destroem a cena do colega. Sara reconstrói o muro.

Sacrifício

Não conseguir ingerir mais. Sufoco. Ricardo e Pedro cobrem a cabeça de Júlio com um saco transparente e vertem àgua para dentro. Júlio fica submerso em apneia. Ricardo rompe a nova cabeça com uma faca. Sozinho em cena, Júlio retoma a respiração.

2ª Biografia: Júlio Mesquita, pelo Ricardo

Caixas de memórias
Cada caixa corresponde a um intérprete e tem dois objectos “pessoais”. Cada caixa é escolhida por um espectador. Por cada escolha corresponde uma cena com um objecto que é oferecido a quem escolheu. Troca por troca.

Ensaio
Júlio decide fazer uma leitura de um texto, Madame de Sade para o caso. Começa com Pedro e Ricardo, Ricardo sai, Sara recusa, espectador faz a vez do Ricardo, depois outro espectador faz a vez do Pedro, depois Júlio sai. Passagem da cena à plateia através do Ponto.

3ª Biografia: Ricardo Guerreiro, pelo Pedro

4ª Biografia: Pedro Manuel, pela Sara

Flashback
Cada um refaz cada cena da maneira que lhe aprouver, durante o tempo de uma música de ciganos dos Balcãs. Depois, apagam-se as luzes, a música, e diz-se o amor e grátis sem acentos, o amor e gratuito sem preceitos, o amor é livre sem compromissos, oh love, love will tear us apart, again, o amor é bandido, o amor é bárbaro, o amor é bárbara, é o que é, o amor e gratis

Apresentação
Cada um apresenta-se com o seu nome, mas o verdadeiro, o do registo, e sai. Não volta.

escrito assim parece tudo mais sério do que foi, desenganem-se