segunda-feira

Debaixo da Cidade no Teatro Municipal


a casa vista da plateia montada no palco com o pano de boca aberta sobre a plateia do teatro


Entre 21 e 24 de Julho o espectáculo Debaixo da Cidade foi visto por mais de 70 pessoas numa taxa de ocupação da sala de 50-90% prefazendo um astronómico total de cerca de cento e tal euros.
Em breve publicaremos as opiniões do público que se caracterizam, genericamente, em três categorias: os que viram, gostaram e não mudavam nada; os que viram, gostaram, mas que também gostavam que acontecessem mais coisas (da ordem do acontecimento, não do "aparecimento"); e, finalmente, os que não viram mas gostaram do que ouviram.
Publicamos também um excerto de um texto da Folha de Sala que esclarece mais alguns passos da obscura mitologia que envolve o aparecimento da Vigilâmbulo Caolho.
«A Vigilâmbulo Caolho começou a esboçar-se no último espectáculo do Ciclo de Leituras Dramáticas, produzido pelo Arteviva em 2003, quando Pedro Manuel e Ricardo Guerreiro conceberam uma versão do texto Branca de Neve, de Robert Walser. Em 2004, a criação do espectáculo O Armário, estreado no AMAC e apresentado no Teatro Municipal do Barreiro, veio abrir a possibilidade de criar um projecto teatral autónomo, um reportório de espectáculos, textos e intenções artísticas que atravessavam a criação teatral, a literatura e as artes plásticas.
O nome do grupo foi descoberto numa esplanada nos finais de 2004, quando pensávamos no primeiro espectáculo a apresentar. Na altura, estávamos interessados nos últimos trabalhos de Beckett, sobretudo nas peças para televisão He Joe, Footfalls, Rockaby, quando o Paulo Calçada nos sugeriu um livro chamado A Colher de Samuel Beckett e outros textos, de Gonçalo M. Tavares. E quando surgiu a oportunidade de nos integrarmos no Ciclo de Leituras Dramáticas do 4º Mês do Teatro, escolhemos o texto Debaixo da Cidade, alargando a criação a Júlio Mesquita e Jorge Ferreira.
Quisemos fazer uma adaptação dramatúrgica de um texto monológico para uma distribuição por várias vozes e sons e, ao mesmo tempo, trabalhar sobre a ideia de ausência do actor, ou de presença humana, razão pela qual os actores não são vistos. Uma vez que se os corpos se tornam invisíveis, havia que desenvolver uma forte concepção do espaço cénico. A partir do texto, desenvolvemos a ideia de casa, de uma casa ausente de habitantes mas plena de memórias, que parece transformar-se num corpo animado pelas vozes. De fora, a cadeira perversa, sem uma perna, um lugar ambíguo que pode dirigir o olhar sobre a cena ou sobre a plateia. Assim, no arco de um dia que passa, imaginámos uma casa habitada.»



O espaço cénico no final do diálogo entre a Vigilâmbulo Caolho, Gonçalo M. Tavares e o público da noite de 22 de Julho. Da esquerda para a direita, Horácio Manuel dentro da caixa, Jorge Ferreira, Júlio Mesquita, Gonçalo M. Tavares com dois livros na mão direita, Ricardo Guerreiro e Pedro Manuel.